segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O monstro

Hoje, um daqueles dias
inundado por hormônios
ou demônios
um banho de água fria
ou uma desculpa
uma sala vazia
músculos, terminações nervosas, saliva
imagens ou miragens
sinapses em engarrafamento, neurônios
adrenalina, serotonina, dopamina, endorfina...
prazer paliativo
fraca morfina
mero sedativo.

Mike Rodrigues

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

RelatIonshiP



Poemas são assim,
Belos e intensos,
Hipnotizantes.
A gente lê e se confunde,
Não sabe separar da realidade,
Se deixar levar pelo romance.
E são tantos poemas que
Às vezes eu me esqueço
Se neles sou personagem
Ou se sou eu que os escrevo.
Mas sempre chega-se à ultima estrofe,
Sempre há o verso derradeiro
E então o próximo poema ou poesia,
Até o poeta não é mais o mesmo.
Talvez eu esteja apenas
Me perdendo em devaneios,
Só espero que me entendam
Pois cansei de falar em grego.

Mike Rodrigues

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Pragmático


Cansei de metáforas
de entrelinhas
de eufemismos
Quero mais é ser explícito
como alguém que mata a sede
que mata a fome
que treme de frio
Explícito como a dor
como criança comendo doce
como um parto
como um medo
Explícito como sexo
como um orgasmo
pornograficamente explícito
Explícito como quem ama
estúpido como quem ama.

Mike Rodrigues

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Anteros

Tu, oh anjo caído
Me persegues como a uma caça
Tu me atiça, me abrasa
Facilmente me hipnotiza,
Me prende, me laça.
Tuas carnes eu desejo,
Esse sentimento que me alucina,
Nelas deitar-me-ia
E voaria com tuas asas.
Tu, oh grega escultura
Deixaste-me à beira de algo absurdo
No limiar entre perder o juízo
E entregar-me a loucuras
Agora vivo à espera de Hermes
E tuas mensagens as guardo comigo
À noite miro sempre o negrume absoluto
Imaginando que talvez
Orfeu te traga consigo.

Mike Rodrigues

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A cidade


À noite as vias de ida são como veias
Em hemorragia
As pessoas fogem de algo invisível
As pessoas são quase invisíveis
No tráfego dessa cidade eu me sinto
Como numa artéria entupida
Como se eu fosse o veneno
Como se não houvesse saída
Às vezes a frieza urbana se confunde
Com algum ar vindo de humanos
Às vezes esse concreto armado
Me parece uma mentira programada
Um cenário
As almas flutuam lentamente
Em direção ao nada
Tênue é a linha entre a vida e a morte
Negra, estéril e gélida
É a madrugada

Mike Rodrigues

domingo, 11 de novembro de 2012

Subterrâneo


Me perco por essas linhas subterrâneas
Enquanto as horas passam
Esse emaranhado confuso
Labirinto de aço
E a cada segundo
A cada metro que viajo
Não sei se mais me confunde o tempo
Não sei se mais me confunde o espaço
Ou se mais me confundo
Ou se mais me fundo
Com esse escuro
Com esse vácuo
Com esses decaimentos de átomos
Esses caminhos são múltiplos
E não sei o que trazem,
Ou a que(m) me levam
Ou o que faço
Talvez levem-me ao meu destino
Ou somente sejam estradas
Por onde eu fuja do meu passado

Mike Rodrigues

sábado, 10 de novembro de 2012

Hematoma


Essa linha roxa
É como uma veia
Adrenalina por ela bombeada
Esta bifurca
Como uma língua viperina
Extremidades demasiadamente
Afastadas
É como uma corda
Que me enforca
Que me amarra
Que me ata
Essa linha: roxa
E eu: carne branca,
Até pálida
Cada vez mais carne
Cada vez mais pálida
Cada vez mais nada.

Mike Rodrigues

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A caneta é o pau do poeta



“Meu pai meu pau
minha mão minha mãe”
Minha Meu - Arnaldo Antunes

O poeta nato
É poeta nu
O poeta é tato
O poeta e sua tattoo
A tattoo do poeta
É perna é pele:
A perna do poeta
Entre seu e seu pau.
O desse poeta é como seu pau
Há mão no pau do poeta
E no seu
Há língua
E no seu pau
E na sua língua
E em outra língua
Só não ainda na do
Mas deixe estar...
letras e anatomia,
Sempre fora seu forte.

Mike Rodrigues

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

The boy from Seoul


Eu gosto quando me ata
Me abraça, me enlaça
Eu gosto do teu amarelo, verde e azul
Faz-me lembrar minha pátria
Sinto-me seguro em tuas cores
Em tuas carnes
Em teus afagos e amores
Gosto de tua língua
Na minha língua
Nessa língua
Que não sei se é minha
Ou a sua
Ou a nossa
Felicidade tem gosto de acelga
Mas com certeza
Soa como bossa.

Mike Rodrigues

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Toranja


Minha casca ácida
Protege-me tal escudo
Tente descascar-me,
Chegar a meu cerne, meu sumo.
Sou esfera, ser vivo, sou fruto
Não basta que me enxergue
É preciso consumo.
Não basta que adivinhe
Em mim interior de suco ou seco
É preciso nudez
Depois do estranhamento.
Minha casca imperfeita
Dentro da qual a seiva pulsa
Guarda minhas entranhas rubras
Gera fascínio e repulsa.
Sou uma toranja
E sangro aos poucos pela tampa
Sou Isaías de boca miúda
E a tampo com um pano branco.

(16/03/12)

Mike Rodrigues

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Lunático


Sou lunar;
Às vezes minguante,
Vou desfalecendo,
Me dissolvendo pela noite,
Mergulhando em mim mesmo
Absorto em segredos,
Ideias e pensamentos.
Então resurjo novo
Em mistérios envolto
E assim recomeço o clico
Como sempre tudo de novo.
Sou lunar;
Vivo cheio de emoções
Esplendido é meu ser
Sou turbilhão e explosão
Sou belo sem nem mesmo o ser.

(2011)

Mike Rodrigues

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Anteros


O frio da noite fustiga-me a face
(protejo-me apenas com a brasa de meu cigarro)
É essa lufada o bater de tuas asas
Anteros, meu anjo de ébano.
É a Lua graúda teu espelho de prata,
Teu olho a desvendar-me os segredos.
O frio da madrugada congela as horas em que me encontro,
Me perco.
É esse teu truque para aprisionar-me a alma,
Levar-me a lucidez escuridão adentro,
Silencioso como pássaro noturno à espreita.
O frio prossegue confundindo-se com o negrume,
E eu a chorar por fora,
E eu a nevar por dentro.

(02/09/11)

Mike Rodrigues

sábado, 4 de agosto de 2012

Uva-passa


O tempo passa e me devora,
Me amassa.
Fico áspera como tuas palavras,
Amarga como tua face.
O correr dos dias asfixia meus pulmões.
Acendo um cigarro para matar o tempo,
Passar a vida.
Assisto indiferente, alheia, à vida que levo,
Relevo.
Infértil e inculta me torno.
O que me resta infelizmente,
É arrumar um gato
E me transformar na louca.

Matilda de Azevedo

quarta-feira, 27 de junho de 2012

C'est ma vie

"I love the free, fresh wind in my hair
Life without care
I'm so broke
It's ‘oke’”


The Lady Is a Tramp



Eu não sei viver aos poucos
Não sei cozinhar sem alho
Não sei amar sozinho
Muito menos beber sem cigarro
Eu não sei fazer sem crer
E para crer preciso sentir
Eu não penso antes de agir
É assim que eu sou e vou sempre ser
Eu não acredito em silêncio a dois
Não deixo nada pra depois
Vivo sempre com intensidade
No limiar da insanidade
Não sei calar a boca
‘Cuz I’m livin’ la vida loka
Não sei de tudo, mas pra tudo eu tenho um “acho”
E quando eu nivelo baby,
EU NÃO NIVELO POR BAIXO.

Mike Rodrigues

sábado, 23 de junho de 2012

Madruga Infinita


A madrugada é infinita
Para almas inquietas
Poetas são naturalmente inquietos
Não que sejam hiperativos
São poetas por serem inquietos
São inquietos por serem poetas
Almas quietas não têm tempo para poesia
Alienam-se
Casam-se
E esperam pela morte.

Mike Rodrigues

terça-feira, 19 de junho de 2012

Carruagem


O tempo passou e não amenizou
Aquilo que o amor fez questão de destruir.
O tempo passou e levou meus amores,
O tempo levou até mesmo o próprio amor.
Ele veio e virou meus olhos para as costas,
Lambeu meus cabelos,
Derreteu-me o colágeno
E descalcificou-me por inteiro.
Passou e deixou-me para trás,
Sentenciou-me a mim mesmo,
Amarrou minha cabeça ao meu tornozelo.
O tempo só soube trazer nostalgia do passado
Despejá-la no presente
E enterrar antídotos e promessas no futuro.
O tempo resumiu minha vida à rotina,
Depois a reduziu à inércia.
Tempo, tempo...
...combustível de inquieta angústia.
Essa que eu jurava ter gosto de jabuticaba,
Mas percebi ter gosto de nada,
Ser o nada,
Ser eu mesmo.


(13/06/12)


Mike Rodrigues

terça-feira, 1 de maio de 2012

After dark


Eu, acostumado com teu silêncio,
Teu doce e asfixiante mudo soturno.
Você, criatura mistério,
Ser noturno.
Eu julguei conhecer-te por escassos encontros,
Não me percebi diminuído
Frente a teu impenetrável escudo.
Eu, iludido por teus olhos,
Tão bela alma.
Você, escondido pelas sombras,
Sempre atrás de máscaras.
Eu achei ver-te claramente,
Acreditei naquele absurdo,
Porém nunca percebi
Que te via somente no escuro.


(26/12/11)


Mike Rodrigues

sábado, 14 de abril de 2012

Púrpura


O desespero de perceber meu bem
Que sou sem pérola uma ostra
Sou a casca oca
Molusco morto
Somente a gosma
A epifania meu amor
De me encontrar sem alma
De ser nada além da concha
E de estar nela encarcerada
É ver-me em mar aberto
Meus destroços à deriva
E o filete púrpura que jorra.

Mike Rodrigues

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Tempo


A noite se difundiu por minha pele,
Penetrou a fundo além de minha capa.
A madrugada me congelou no espaço,
Transformou-me em estátua,
Cobriu-me o rosto com máscara.
À minha volta,
As pessoas continuam rotineiramente
Sendo vazias,
Sendo, apenas.
À minha volta o mundo gira;
Esse movimento todo me dando ânsia,
A cada instante, a cada era que passa.
Sou só mais uma ironia,
“Porque o tempo,
O tempo não pára”,
O tempo não para.


Mike Rodrigues

sexta-feira, 23 de março de 2012

Filosofia noturna


As corujas já não dormem de dia
Nem adormecem -
Insônia,
Olhos grandes
Como Luas -
Mas já não vigiam.
Os ratos e insetos estão à solta,
As corujas já não comem,
Não são mais boêmias,
Não são mais, apenas.
As corujas já não mais pousam
Sobre os ombros de Atena,
Já não voam,
Arrastam-se,
Já não piam.
Apenas esperam pela morte,
Apenas se confundem com as trevas,
        ... se confundem...
       ... nos confundem...

Mike Rodrigues

domingo, 18 de março de 2012

Lítio


Talvez me falte carga,
Me sobre polos,
Me sobre vícios.
Talvez sou inconstante,
Imprevisível, alternativo.
Sou pedra que derrete em água,
Misterioso e reativo.
Talvez me sobre humores,
Me falte amores,
Me falte amigos.
Não! Meus amigos...
...estão dentro da minha cabeça.



(16/03/12)


Mike Rodrigues

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Superlativo

Meu lóbulo enrubesce,
Meus ouvidos sangram pérolas púrpuras.
Sobrevivo com adjetivos e aditivos,
À noite, às vezes, durmo.
O mundo é obscuro e me apavora,
Me devora,
Me drena aos poucos.
Substantivos precisam ser subjugados,
Subtraídos e substituídos.
Meus dedos inquietos e inquisitivos
Assim como minha mente,
Prescrevem paliativos.
Essa realidade é tão concreta quanto vapor,
É subversiva e absurda
E me choca a cada dia.
A vida prossegue abstrata,
Respirar é preciso,
Existir é relativo.


Mike Rodrigues

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Escuro


Sou sim
O Universo dentro de mim
Meu âmago
Ama
Go!
Esta é a luz
Mesmo quando não podes vê-la
Sou sim
Mistérios sem fim
Matéria escura
Ciclos cada vez mais longos
Céu fechado
Sem iluminuras
Sou sim
Assim
Sou antes de o ser
Meu ser
Você
É como estrela que vejo
Não mais existe
Brilho antigo.


(05/01/12)


Yuri Mushrock

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Ser como o rio...


"...que deflui
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite."

Manuel Bandeira


Sou rio
Só rio
Sorrio.

(26/01/12)

Mike Rodrigues

Vazio


Estou vazio
Como pele nua com frio
Um ventre magro e faminto
A escuridão eterna
Etérea
O limbo
Estou vazio
Como olho sem brio
Uma boca seca e amarga
A omissa língua
Nula
O fastio
Estou vazio
Como mente em desvario
Um corpo oco de alma
Um ser sem espírito
O espaço inútil
A terra infértil
O vão
O vácuo
O nada absoluto
Completamente
Sozinho.

Mike Rodrigues

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Pornografia explícita


Sorvete de chocolate:
Um cone
Duas bolas
Leite condensado
Olhos famintos
Língua e saliva
Movimentos ávidos
Sobre o calor do meio dia.

Mike Rodrigues

sábado, 21 de janeiro de 2012

A folha


A folha branca à minha frente
Se torna cada vez mais alva,
Cada vez mais morta,
Tão inerte, até sólida.

A folha hoje, folha outrora,
Celulose resumida
À folha clara,
A não-vida me instiga,
Me chama, me demanda,
O rubro pulsar de minha essência,
Aquela que tivera
Como eu tenho agora.

A folha branca à minha frente,
Tão nula folha
Vazio me torna,
A folha industrializada,
Tão alvo papel que cega
É a árvore que me chama
a assinar minha sentença
como ela, morta.

Mike Rodrigues

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Abismo

                                           Lo Zeos - papel craft, paetês, linha e fio laminado

Vejo dentro de mim o escuro
Sou o Universo antes de o ser
Antes do ser
O pré Gênesis
A pré Singularidade
Sou o escuro
Matéria escura
Sou a antienergia
O Caos
A própria cosmologia
Vejo dentro de mim você
Antes de o ser
Antes do Verbo
O preâmbulo
E a penumbra
A lado escuro da Lua
Sou o Sol em eclipse
Ego Sum
E me transmuto a cada dia.

Yuri Mushrock