quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Confesso


Lembro-me que lá fora o mundo prosseguia
Comendo confetes molhados de salivas
E regados a bebidas.
Meus tímpanos vibrando num beat frenético,
Meu coração em perfeita sintonia,
Meu cérebro em absoluta diacronia.
Confesso que naquela noite não sabia o teu nome.
Muito menos o meu.
O que nunca te disse, no entanto,
É que quando nos beijamos
O mundo em baixo dos meus pés se estagnou,
Sem rotação ou translação
E assim ficou,
Tendo como único movimento o som que o ar cortava.
Também, quando repousei minha cabeça cansada
Sobre seu colo cansado,
Enquanto eu ressonava em total desaviso,
Mesmo não bonita sendo a cena,
Por um momento senti-me parte de algo perfeito.

A última vez que nos beijamos
O tempo parou naquele dia
E vivi oito meses sem realmente ter vivido,
Acho que apenas existi.

Então você me reaparece,
A chuva volta a cair na terra,
Trazendo, quem sabe, sinal de boas colheitas.
O frio que outrora me arrepiava a espinha, agora
Contra o calento de teu corpo despido,
Não representa ameaça alguma
De me encurralar em uma noite escura e vazia.
Sinto-me capaz de pular e nunca mais tocar o solo,
Como se não mais existisse forças atrativas,
A não ser a que atrai nossos olhares e anatomias.

(11/11/10)

Mike Rodrigues

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