sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Anteros

Tu, oh anjo caído
Me persegues como a uma caça
Tu me atiça, me abrasa
Facilmente me hipnotiza,
Me prende, me laça.
Tuas carnes eu desejo,
Esse sentimento que me alucina,
Nelas deitar-me-ia
E voaria com tuas asas.
Tu, oh grega escultura
Deixaste-me à beira de algo absurdo
No limiar entre perder o juízo
E entregar-me a loucuras
Agora vivo à espera de Hermes
E tuas mensagens as guardo comigo
À noite miro sempre o negrume absoluto
Imaginando que talvez
Orfeu te traga consigo.

Mike Rodrigues

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A cidade


À noite as vias de ida são como veias
Em hemorragia
As pessoas fogem de algo invisível
As pessoas são quase invisíveis
No tráfego dessa cidade eu me sinto
Como numa artéria entupida
Como se eu fosse o veneno
Como se não houvesse saída
Às vezes a frieza urbana se confunde
Com algum ar vindo de humanos
Às vezes esse concreto armado
Me parece uma mentira programada
Um cenário
As almas flutuam lentamente
Em direção ao nada
Tênue é a linha entre a vida e a morte
Negra, estéril e gélida
É a madrugada

Mike Rodrigues

domingo, 11 de novembro de 2012

Subterrâneo


Me perco por essas linhas subterrâneas
Enquanto as horas passam
Esse emaranhado confuso
Labirinto de aço
E a cada segundo
A cada metro que viajo
Não sei se mais me confunde o tempo
Não sei se mais me confunde o espaço
Ou se mais me confundo
Ou se mais me fundo
Com esse escuro
Com esse vácuo
Com esses decaimentos de átomos
Esses caminhos são múltiplos
E não sei o que trazem,
Ou a que(m) me levam
Ou o que faço
Talvez levem-me ao meu destino
Ou somente sejam estradas
Por onde eu fuja do meu passado

Mike Rodrigues

sábado, 10 de novembro de 2012

Hematoma


Essa linha roxa
É como uma veia
Adrenalina por ela bombeada
Esta bifurca
Como uma língua viperina
Extremidades demasiadamente
Afastadas
É como uma corda
Que me enforca
Que me amarra
Que me ata
Essa linha: roxa
E eu: carne branca,
Até pálida
Cada vez mais carne
Cada vez mais pálida
Cada vez mais nada.

Mike Rodrigues