Sou da terra em que existe
um
bater não violento
um
terreiro bom, por exemplo
bate
sol e bate vento
e o som que bate em tambores, panelas ou pingos de chuvas em copos
esse bater de batuque que bate o som, sabe?
também é bater que pode
Eu
sempre fui tribo de sol
que
batia na fruta a amadurecê-la
que
eu apanhava com a mão.
Sempre
morei nas curvas onde se estralam como um chicote e se sibilam como um silvo os
ventos violentos nos varais.
Enquanto eu nadava com meu irmão
minha mãe lavava roupa num ribeirão,
cozinhava feijão à lenha
minha mãe lavava roupa num ribeirão,
cozinhava feijão à lenha
e tinha hortaliça e ervas sempre à mão.
Eu
tinha planta de estimação,
que na minha imaginação
era como amigo da gente.
Eu tive mata pra furar o pé
e manga
madura docinha que a meninada dividia com a macaca
E os
pássaros que vinham voando comer.
Eu
tive os cabelos longos
cabelo
de cuia já tive também
sempre corri livre, levado e solto
e como o vento sempre hei de correr.
Já tive casa na árvore,
já me balancei em cipó
Dizem que tive uma índia tataravó,
talvez eu até mesmo já fui árvore
já me balancei em cipó
Dizem que tive uma índia tataravó,
talvez eu até mesmo já fui árvore
e sempre hei de ser raiz.
Mike Rodrigues