sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Mim Mike



Sou da terra em que existe
um bater não violento
um terreiro bom, por exemplo
bate sol e bate vento
e o som que bate em tambores, panelas ou pingos de chuvas em copos
esse bater de batuque que bate o som, sabe?
também é bater que pode

Eu sempre fui tribo de sol
que batia na fruta a amadurecê-la
que eu apanhava com a mão.
Sempre morei nas curvas onde se estralam como um chicote e se sibilam como um silvo os ventos violentos nos varais.

Enquanto eu nadava com meu irmão
minha mãe lavava roupa num ribeirão,
cozinhava feijão à lenha
e tinha hortaliça e ervas sempre à mão.
Eu tinha planta de estimação,
que na minha imaginação
era como amigo da gente.
Eu tive mata pra furar o pé
manga madura docinha que a meninada dividia com a macaca
E os pássaros que vinham voando comer.

Eu tive os cabelos longos
cabelo de cuia já tive também
sempre corri livre, levado e solto
e como o vento sempre hei de correr.
Já tive casa na árvore,
já me balancei em cipó
Dizem que tive uma índia tataravó,

talvez eu até mesmo já fui árvore
e sempre hei de ser raiz.


Mike Rodrigues